domingo, 11 de novembro de 2018

Comunicado da Santa Abadia (Santo Departamento das Santas Catapumbas) à humanidade, aos seranistas, e demais interessados,

           (Carta entregue por mão à senhora que costuma ter as chaves do sítio onde se reúnem estes elementos da população e que foi lida)


Santa Abadia dos Santos Monges Có-Có

                                                                                                 Santo Mosteiro de São Algures

                                                                                                              no ano cocó 2018

A dramatologia Có-Có

 

Chegou ao conhecimento da Santa Ordem Có-Có, emanação espiritual do Movimento Literário Có-Có, por uma lufada de ar fresco no ambiente literário pestilento em que vivemos, também conhecido secretamente por AQVS (Aquilo que Vocês Sabem), vivendo, em Santa Clausura, no Santo Mosteiro Có-Có situado em São Algures, e santamente dirigido pelos 4 em 5 Santos Monges Có-Có, e onde vivem em harmonia 33 galinhas felizes e 8 vacas contentes, que num pretérito Serão das Cortes se teria tentado fazer a história do teatro ignorando esta Santa Ordem.

Assim, em Santa Missa realizada no Santo Departamento das Santas Catapumbas, em hora e local ignorados pelos mencionados 4 em 5 Santos Monges Có-Có (por motivos de segurança), mas em que todos estiveram, apesar disso, presentes, coincidência esta designada como o Segundo Santo Milagre Có-Có, foi decidido enviar uma mensagem ao Serão, hoje a realizar, com fim de repor a verdade, qualquer que ela seja e na presunção de que seja.

Connosco não se brinca nem a brincar…

 

O Teatro e a Santa Dramatologia Có-Có são completamente originais e têm sido ostensivamente ignorados pelo establishment. Vamos dar um exemplo recorrendo a uma peça muito conhecida e erradamente atribuída a Shakespeare, mas na verdade da autoria de um Santo desta Ordem, que pretende continuar anónimo. Trata-se da peça “Quo Vadis, Brutus”. A cena passa-se alguns momentos após Brutus ter assassinado César por asfixia (na sequência do primeiro lhe ter contado uma anedota, tão anedótica, que o segundo não conseguiu respirar de tanto rir e assim morreu asfixiado), e imediatamente antes deste ser enterrado. Chamo a atenção para a genialidade e originalidade do estilo de representação Có-Có. Eis o excerto de um diálogo:

- Pai, por onde tens andado, que não te tenho vislumbrado?

- Brutus, Brutus, deste lado está tudo embaciado…

- Não admira César, é que estás a ir desta para melhor…

- Parece que estou a ouvir uns sininhos…

- Sim, sim, são os sinos que dobram por ti.

 

Já visivelmente enterrado e morto, ainda se ouviu uma vozinha distante e funda balbuciando: “Nã se vê nada…”

Na famosa peça “Jesus Cristo e os salteadores dos evangelhos”, também ela da autoria de um nosso Santo Irmão Monge, que prefere seguir no seu Santo e Recluso Anonimato, se encontra o seguinte e interessante diálogo entre o primeiro e o segundo. Ouçamos um excerto:

- Lavo as minhas mãos sobre o vosso destino, ó rei dos labregos!

- Que seja. Mas que se transforme em sangue a água onde lavardes as vossas mãos, ó rei dos pirolitos.

- Por favor!... Não pode ser antes em vinho da casta syrah?

 

É nesta mesma peça, que Jesus encontra o salteador Masquelata Pasteleiro, no momento em que este vende a sua alma ao diabo por meia dúzia de pastéis de Tentúgal. Nesta parte trágica da obra, Jesus censura o dito Pasteleiro e promete-lhe castigo eterno, ao que o referido trauliteiro responde “mais vale um pastel na boca que dois a voar”, com esta frase insinuando que a referida doçaria tem asas. Ainda mais adiante, é Jesus que encontra o diabo lavado em lágrimas. Tinha sido enganado no negócio com o Masquelata Pasteleiro, cuja alma, afinal, apenas tinha dentro doce de ovos colesterado, coisa que não lhe serve para nada, na disputa que tem com Deus, desde que este o criou para pôr fim à monotonia em que vivia.

Não temos mais tempo para continuar, pois acaba de soar o Santo Sino do nosso Santo Mosteiro, chamando para a Santa Meditação do dia. Terminamos com um pensamento do nosso Santo Livro, O Grande Livro da Sabedoria Có-Có: a vida depois da morte e mesmo antes dela:

Para baixo é sempre a descer, mas recorda que quando  já estiveres em baixo, a seguir é sempre a direito até à próxima queda.

Em nome da Santa Abadia Có-Có,

 

 

Que o Có-Có esteja convosco.

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